Abolindo o que Satã propõe?
Uma rápida análise na razão da ab-rogação no Alcorão
Sam Shamoun & Jochen Katz
A posição oficial do Islamismo Sunita é de que o Alcorão contém um único caso conhecido de ab-rogação. A erudição Sunita mantém, baseada em poucas passagens do Alcorão, que o Alcorão tem versos que cancelaram ou ab-rogaram outros de seus versos. Os versos que foram cancelados ou anulados são conhecidos como mansukh, e esses textos ou mandamentos que cancelam outros são chamados de nasikh.
Os Muçulmanos acreditam que foi Allá quem revelou ambos conjuntos de textos, i.e. Allá é aquele que enviou os versos cancelados e os versos canceladores.
No entanto, um estudo cuidadoso do Alcorão verdadeiramente indica que Allá não é o único que enviou passagens específicas e que foram mais tarde canceladas pelos versos ab-rogadores. Se alguém der uma atenção cuidadosa às específicas citações que os Muçulmanos frequentemente usam para apoiar sua crença na ab-rogação, nenhuma delas explícitamente diz que Allá enviou os versos ab-rogados.
Não ab-rogamos nenhum versículo (ayatin), nem fazemos com que seja esquecido (por ti), sem substituí-lo por outro melhor ou semelhante. Ignoras, por acaso, que Deus é Onipotente? S. 2:106
Deus impugna e confirma o que Lhe apraz, porque o Livro-matriz está em Seu poder. S. 13:39
E quando abrogamos um versículo (ayatan) por outro [versículo] (ayatin) - e Deus bem sabe o que revela - dizem-te: Só tu és dele o forjador! Porém, a maioria deles é insipiente. S. 16:101
Esses textos apenas dizem que Allá apaga, cancela, anula versos específicos, mas não diz que ele havia originalmente revelado essas passagens que foram posteriormente anuladas.
Em outras palavras, o Alcorão explicitamente atribui apenas os versos ab-rogadores (nasikh) a Allá, mas em lugar nenhum afirma que os ab-rogados (mansukh) também têm a origem em Allá. A autoria desses versos fica inespecífica nas passagens acima.
Um exame detalhado do Alcorão mostra que, na verdade, Satanás, e não Allá, é o responsável por pelos menos algumas, se não todas, as passagens ab-rogadas! Note o que o texto a seguir diz:
Antes de ti, jamais enviamos mensageiro ou profeta algum, sem que Satanás o sugestionasse em sua predicação; porém, Deus anula o que aventa Satanás, e então prescreve as Suas leis (ayatihi), porque Deus é Sapiente, Prudentíssimo. S. 22:52
A Sura 22:52 claramente se refere a versos específicos que Satã inseriu ou introduziu na mensagem de Mohamed. Allá segue para apagar o que Satã propôs na recitação dos profetas, de modo que estabelecia sua revelação. Ele faz isso revelando algo melhor ou similar ao que Satã trouxe, embora que sem os enganos e/ou distorções (é por isso que se diz serem similares, cf. 2:106).
Esta análise é apoiada ao se dar cuidadosa atenção ao contexto imediato da Sura 16:101
Quando leres o Alcorão, ampara-te em Deus contra Satanás, o maldito. Porque ele não tem nenhuma autoridade sobre os fiéis, que confiam em seu Senhor. Sua autoridade só alcança aqueles que a ele se submetem e aqueles que, por ele, são idólatras. E quando ab-rogamos um versículo por outro – e Deus bem sabe o que revela – dizem-te: Só tu és dele o forjador! Porém, a maioria deles é insipiente. S. 16:98-101
Há uma conexão, uma correlação direta entre o Alcorão ser recitado, versos serem ab-rogados e em procurar proteção contra Satã. A conclusão que nós fazemos disso é que Mohamed pedia pela proteção de Deus todas as vezes que recitava o Alcorão, já que Satã tinha o hábito de inserir seus próprios versos com o propósito de confundir Mohamed e os Muçulmanos a respeito da verdadeira leitura do Alcorão. Assim, isso fez com que Allá tivesse que apagar esses versos que Satanás introduziu no meio da mensagem de Mohamed.
Para resumir: Algumas passagens que falam sobre Allá ab-rogar versos e substituí-los por outros melhores deixam aberta a questão de quem foi o autor dos versos ab-rogados. Entretanto, uma passagem explicitamente diz que Allá substituiu o que Satanás introduziu (S. 22:52), e em outra passagem sobre ab-rogação, o contexto imediato ordena que Mohamed se refugie contra Satã quando for recitar o Alcorão, sugerindo assim que Satã regularmente tenta influenciar a recitação de Mohamed, e procura bagunçá-la, embora diga ao mesmo tempo que Allá substituirá algumas revelações por outras (S. 16:98-101). O fato é que o único autor dos versos ab-rogados que é mencionado no Alcorão é o Satã.
Assim, quando procuramos entender o que todos esses textos estão dizendo, quando interpretamos o assunto da ab-rogação à luz de outro, somos deixados com a conclusão de que algumas das passagens de Satã foram expurgadas do Alcorão (cf.este artigo), enquanto outras podem não ter sido removidas. Elas continuam fazendo parte do Alcorão.
Seguindo nisso, é de consenso que a vasta maioria dos clássicos eruditos Sunitas que o Alcorão contém um substancial número de versos ab-rogados (cf. estes artigos).
Já que um número de versos ab-rogados continua fazendo parte do Alcorão, os Muçulmanos devem se agarrar ao fato de que seu livro contém citações que Satanás inspirou, já que ele é aquele que introduziu essas passagens canceladas. Aparentemente esses textos não vieram de Allá.
Ainda que um Muçulmano queira rejeitar nossa conclusão (e nós concordaríamos que a conclusão acima não é bem o que o autor do Alcorão quis dizer), dificilmente alguém não admitiria que este é pelo menos um outro exemplo de incoerência e imperfeição do Alcorão. Seria muito fácil adicionar uma breve declaração da origem desses versos ab-rogados. Como se vê, os dados disponíveis parecem tornar claro que Satanás é o autor de parte do Alcorão.
Aqui está um exemplo dos versos ab-rogados e ab-rogadores que ainda podem ser encontrados no Alcorão:
Ó fiéis, está-vos preceituado o talião para o homicídio: livre por livre, escravo por escravo, mulher por mulher. Mas, se o irmão do morto perdoar o assassino, devereis indenizá-lo espontânea e voluntariamente. Isso é uma mitigação e misericórdia de vosso Senhor. Mas quem vingar-se, depois disso, sofrerá um doloroso castigo. S. 2:178
Contradiz o seguinte:
Por isso, prescrevemos aos israelitas que quem matar uma pessoa, sem que esta tenha cometido homicídio ou semeado a corrupção na terra, será considerado como se tivesse assassinado toda a humanidade. Apesar dos Nossos mensageiros lhes apresentarem as evidências, a maioria deles comete transgressões na terra. S. 5:32
Nem (a Tora) temo-lhes prescrito: vida por vida, olho por olho, nariz por nariz, orelha por orelha, dente por dente e as retaliações tais e quais; mas quem indultar um culpado, isto lhe servirá de expiação. Aqueles que não julgarem conforme o que Deus tem revelado serão iníquos. S. 5:45
Um texto determina que os homens livres não serão mortos por assassinarem escravos, ou mulheres, etc., ao passo que o outro texto sugere que uma pessoa livre será forçada a pagar por qualquer assassinato injusto, independentemente do sexo da vítima ou sua classe. Para uma discussão mais detalhada desse tema, veja o artigo (em Inglês) Islam’s Unjust Punishments. Esse artigo também mostra que 2:178 está tão mal redigido que nos leva a uma mais grave confusão, de modo que dificilmente teria vindo de um Deus sábio e onisciente. Era absolutamente necessário ab-rogá-lo por outro melhor.
Um problema adicional e uma dificuldade surgem das declarações da Sura 16:98-101. Esses versos dizem que Satã não tem qualquer efeito naqueles que confiam em Allá. No entanto, a Sura 22:52 e as narrativas Islâmicas dizem que Satã não apenas tratou de inserir suas vontades nas recitação de Mohamed, mas que Mohamed também ficou sob o poder de Satã, já que fora enfeitiçado por um tempo:
Narrou Aisha:
Uma vez o Profeta esteve enfeitiçado de modo que imaginava que havia feito algo que, de fato, não fez. (Sahih Al-Bukhari, Volume 4, Livro 53, Número 400)
Narrou Aisha:
O Apóstolo de Allah estava afetado por mágica, tanto que ele costumava pensar que havia feito algo que, de fato, ele não fez, e ele invocou seu Senhor (para um remédio). Então, (um dia) ele disse, “Ó, ‘Aisha! Você sabia que Allah me orientou a respeito do problema pelo qual eu O consultei?” ‘Aisha disse, “Ó, Apóstolo de Allah! O que é?” Ele disse, “Dois homens vieram a mim e um se assentou à minha cabeça e o outro aos meus pés, e um deles perguntou a seu companheiro, ‘O que há de errado com esse homem?’ O outros respondeu, ‘Ele está sob efeito de magia.’ O primeiro perguntou, ‘Quem lançou-lhe magia?’ O segundo respondeu, ‘Labid bin Al-A’sam’. O primeiro perguntou, ‘Com que ele fez a magia?’ O segundo respondeu, ‘Com um pente e o cabelo que estava preso ao pente, e com a casca do pólen de uma tamareira.’ O primeiro perguntou, ‘Onde está isso?’ O outro respondeu, ‘Está em Dharwan.’ Dharwan era um poço no local de habitação (da tribo) de bani Zuraiq. O Apóstolo de Allah foi àquele poço e retornou a ‘Aisha, dizendo, ‘Por Allah, a água (do poço) era vermelha como a infusão de Hinna, (1) e as tamareiras se parecem com a cabeça de demônios.’ ‘Aisha adicionou, o Apóstolo de Allah veio a mim e me informou sobre o poço. Eu perguntei ao Profeta, ‘Ó, Apóstolo de Allah, por que você não remove a casca de pólen?’ Ele disse, ‘Quanto a mim, Allah me curou e eu odiei ter de dar atenção ao povo a tal mal (de modo que pudessem aprender a causar mal ao outros com isso.)’”
Narrou o pai de Hisham: ‘Aisha disse, “O Apóstolo de Allah estava enfeitiçado, então ele invocou a Allah repetidas vezes pedindo-O para curá-lo dessa magia).” Então Hisham narrou o citado acima. (Veja Hadice N° 658, Volume 7) (Sahih Al-Bukhari, Volume 8, Livro 75, Número 400)
Para uma discussão detalhada da influência de Satanás na vida de Mohamed, veja os artigos listados aqui (em Inglês) e procure alguns por esse tema aqui na seção em Português.
Isso também significa que o Alcorão está errado, já que Satanás tem sim poder sobre servos fiéis de Allá, ou então Mohamed não era tão fiel a Allá, de modo que não estava agradando tanto a seu deus. De qualquer forma, esses textos exibem maiores problemas para os Muçulmanos e sua crença no ofício profético de Mohamed, bem como à alegada inspiração divina do Alcorão em todos seus aspectos.
Mesmo que os Muçulmanos vão discordar de nossa conclusão, à luz do que mostramos, pedimos que eles ponderassem a respeito das seguintes questões. Como você pode ter certeza que Allá removeu todos os versos que Satã introduziu antes de Mohamed morrer? E, já que há muitos versos no Alcorão que os Muçulmanos Sunitas consideram ab-rogados, como você sabe que alguns deles não são realmente de Satã ao invés de Allá?
Embora fosse ruim o bastante que alguns dos versos ab-rogados do Alcorão são oriundos de Satã, devemos notar que eles não foram inseridos já num estado ab-rogado, mas eles estiveram operantes e considerados válidos por certo período, i.e., até que Allá enviou a ab-rogação. Se Allá não se esforçou para ab-rogar todos esses versos falsos, significa que não apenas os versos ab-rogados são suspeitos de serem de Satã, mas potencialmente todos os outros versos também são, incluindo os versos nasikh, pois que impediria Satã de inspirar um verso que ab-roga algo previamente dado por Allá? Se Satã pode introduzir versos no Alcorão – como estabelecido na Sura 22:52 -, então cada um dos versos do Alcorão são duvidosos.
Não subestime a questão de “Como um Muçulmano pode ter certeza de que Allá removeu todos versos introduzidos por Satã antes da morte de Mohamed?” No caso específico dos “Versos Satânicos”, os dados históricos sugerem que levou-se semanas, se não meses, para que eles fossem cancelados e substituídos. A abolição e substituição certamente não foram imediatas. Além do mais, o Alcorão também ensina que os Cristãos estavam equivocados a respeito da crucificação de Jesus. Os Evangelhos, sem dúvida, ensinam que Jesus foi crucificado. De fato, a crucificação de Jesus não é apenas uma mensagem paralela, mas é o evento central e vital do entendimento Cristão a respeito do meio de Salvação de Deus para nossos pecados. Não há nem ao menos uma dica nos Evangelhos de que Jesus foi substituído por outra pessoa. Se devemos acreditar no Alcorão, então Allá esperou cerca de 600 anos antes de corrigir o erro fundamental que desviou toda a Cristandade, bilhões de pessoas até este dia. Esse fato não inspira muita confiança de que o deus do Islã tem por prioridade corrigir os erros e falsidades em suas escrituras rapidamente. Como que um Muçulmano pode confiar que Allá não deixou erros similares e distorções no Alcorão, igualmente como alegam que aconteceu nos Evangelhos?
Ainda há outra questão desconfortável. A S. 22:52 diz que Allá remove o que Satã introduziu. O que isso diz a respeito do considerável número de versos que estiveram no Alcorão por algum tempo, mas que não estão mais na versão atual? Para detalhes, veja a seção em Inglês Variant Texts of the Qur’an, ou um pequeno texto em Português aqui. Todos eles ou a maioria deles foram removidos por terem sido originados por Satã? O verso do apedrejamento seria particularmente problemático neste momento, já que é uma parte essencial da Sharia, embora não esteja mais no Alcorão. A lei Islâmica ordena que se apedrejem adúlteros, e Muçulmanos seguem este mandamento nos dias atuais. Na verdade, eles estão seguindo um ensinamento de Satã, já que este verso foi removido do Alcorão e em seu lugar encontramos um verso que ordena açoitar tais adúlteros (S. 24:2)?
Um Pensamento Final
Alguém poderia assumir uma perspectiva diferente. Quando olhamos para alguns dos versos ab-rogados e ab-rogadores, por exemplo, o princípio “não há imposição quanto à religião” (S. 2:256) que fora depois ab-rogado por “matai os idólatras, onde quer que os acheis” (S. 9:5) – veja estes dois artigos (*, *) para mais detalhes – então parece que algumas vezes os versos mais antigos e que foram ab-rogados são os melhores, enquanto os versos ab-rogadores são de variedade violenta e maligna. Ponderando isso, alguém poderá concluir que, de fato, a ordem é inversa, i.e., Satanás tratou de ab-rogar os versos que Allá originalmente revelou. Ou, se estendermos a conclusão exposta neste artigo, então o caráter de Allá no Islã é pior que o de Satã!
This article is a translation of "Abolishing what Satan proposes?" - original
Este artigo é uma tradução de "Abolishing what Satan proposes?" - original
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Palavras-chave
Mohamed, Maomé, Muhamed, Mohammed, Islã, Islam, Alcorão, Al-Corão, Quran, Korão, Al-Korão, hadith, hadice, sharia, tafsir, islamismo.