Autoridades Argelinas fecham sete igrejas Protestantes “Ilegais”
Por Jacob Thomas
É meu costume acompanhar os acontecimentos no mundo Muçulmano lendo os artigos publicados no jornal Árabe online, Elaph. Na quarta-feira, 25 de maio, notei o título de uma manchete: “Autoridades Argelinas fecham sete igrejas Protestantes ‘Ilegais’”(*) Aqui está uma tradução do texto Árabe, seguido de minha análise e comentários.
"O presidente da Igreja Protestante da Argélia informou a Agence France Presse que as autoridades argelinas ordenaram o fechamento de sete igrejas protestantes, na província de Bejaya, na “região de Pequena Kabyle”, no leste da Argélia. A razão dada foi que essas igrejas não haviam cumprido a lei que rege a prática da religião no país.
"Mustapha Kareem Karim, o superintendente das igrejas na zona declarou que a 08 de maio de 2011, o Governador do Bejaya" mandou-nos fechar sete das nossas igrejas, sem dar qualquer justificação para o seu fim. No entanto, parece que a decisão foi tomada em conformidade com a lei de fevereiro de 2006, que exigia obter permissão das autoridades provinciais para a prática de qualquer religião, além do Islã”.
"Kareem explicou: “Nós continuamos nossas atividades nestas igrejas, uma vez que haviam sido organizadas antes da promulgação da lei de 2006. Entrando em contato com as autoridades, a fim de cumprir a ordem, nós descobrimos que haviam muitos obstáculos permanentes no nosso caminho, atrasando assim a concessão da licença”.
“A Argélia exige que todos os que querem praticar uma religião diversa do islã, devem obter duas autorizações: uma quanto ao lugar de culto e outras informações sobre a pessoa ou o líder responsável pela igreja local”.
“A Constituição argelina garante a liberdade religiosa e o direito dos não-Muçulmanos para praticar sua fé. Segundo o jornal argelino Al-Watan, Hamou al-Touhami, o governador da província onde as sete igrejas foram fechadas, disse, "Nós não nos opomos à prática de religiões não-Islâmicas, mas seus seguidores têm que honrar a lei da terra”.
“É de notar que a Igreja argelina está experimentando um crescimento, especialmente no distrito de Kabyle. De acordo com Mustapha Kareem, o número de evangélicos na Argélia atingiu 30.000.
“Os líderes Muçulmanos na Argélia tem sido muito críticos das atividades de evangélicos que se envolvem em segredo em seu trabalho. Eles afirmam que tais atividades são contrárias ao Islã, que é, de acordo com a Constituição, a religião do Estado e a fé da maioria dos Argelinos”.
Análise
Teoricamente, a Constituição argelina garante liberdade de religião. Na prática, porém, as autoridades colocam obstáculos no caminho daqueles que realmente optam por praticar uma religião diferente do Islã. O relatório afirma que os não-Muçulmanos devem obter autorizações que indicam o local de sua igreja e seu líder antes que eles possam operar. Isso não é irracional, mas fechar igrejas que estavam em vigor antes de essas condições serem implementadas e antes mesmo que pudessem as cumprir, isso parece indicar que esta é apenas uma desculpa para fechar as igrejas. O governador da província onde as igrejas foram obrigadas a fechar pode ter sido obrigado a ceder às pressões de líderes da comunidade Muçulmana, que se tornaram temerosos com a presença evangélica e por sua eficácia na área. Será interessante ver como essa história vai se desenrolar nos próximos dias.
Comentários
Durante a segunda metade do século XX, milhões de Muçulmanos do Sudeste Asiático, Oriente Médio e Norte da África, mudaram-se para a Europa e às Américas, onde eles passam a ter as liberdades pessoais que todos os ocidentais desfrutam. Isso inclui a liberdade de religião. Eles construíram mesquitas na maioria das cidades e vilas onde se estabeleceram. Não só eles praticam sua fé livremente, mas eles se envolvem em Da'wa, o equivalente Islâmico de missões aos não-Muçulmanos. No entanto, os Cristãos e pessoas de outras religiões que vivem nas terras sob o controle Muçulmano não gozam de liberdades semelhantes. Eles enfrentam discriminação e perseguição definitivas em alguns casos. Quanto ao envolvimento na evangelização, como os Muçulmanos no Ocidente fazem, é totalmente inaceitável e criminal. Particularmente, os convertidos ao Cristianismo vivem em constante perigo.
A Argélia não tem sido tão hostil aos não-Muçulmanos com têm sido as autoridades de outros países Islâmicos. É por isso que o fechamento dessas sete igrejas não é um bom sinal. Quando os Cristãos procuram cumprir com as autoridades, eles são rejeitados também. As regras são postas em prática e, em seguida, os funcionários se recusam a permitir que os Cristãos cumpram as regras quando procuram fazê-lo. Existem outras fontes que acreditam que as autoridades estão ameaçando fechar todas as igrejas, não apenas as sete listadas na matéria traduzida acima.
Esta matéria da Argélia, junto com os outros exemplos de crueldade contra os Cristãos nos países “livres” do Oriente Médio que têm se esforçado para conseguir ver a democracia, indicam que a situação política pode não ser tão bonita como muitos analistas no Ocidente têm dito.
A "democracia" Iraquiana, por exemplo, não tem se mostrado muito receptivo aos milhares de Cristãos Iraquianos que vivem no país desde os primeiros anos da era Cristã. A presença militar dos Estados Unidos, ao contrário do que se poderia esperar, não tem facilitado as coisas para os Cristãos. Mais da metade dos Cristãos Iraquianos têm sido forçada a deixar sua terra natal após a presença militar Americana! E mesmo que o governo de quarenta anos de Hosni Mubarak tenha chegado ao fim no Egito, os Coptas (Cristãos do Egito), até agora, não se beneficiaram da mudança de poder que ocorreu com a saída de Mubarak. Graves confrontos entre as autoridades e os Cristãos têm ocorrido e igrejas foram queimadas. Se a chamada “Primavera Árabe” traz uma verdadeira democracia ainda é algo deve ser visto, mas até agora, certamente não trouxe qualquer melhoria nas condições de base dos Cristãos que vivem nestes países.
A situação na Argélia nos lembra mais uma vez como é difícil para os Cristãos e pessoas de outras religiões praticarem sua religião em países Islâmicos. Obter a permissão para construir casas de culto não é algo fácil de se conseguir. Os Muçulmanos que se instalaram na Europa e nas Américas, no entanto, não experimentam tais dificuldades. Eles têm total liberdade para praticar sua fé, construir mesquitas e propagar sua fé e visão de mundo. E isso apesar do fato de que algumas mesquitas no Ocidente, muitas vezes graças ao dinheiro da Arábia Saudita e sua influência, tornaram-se centros de radicalismo. Muitos imãs Árabes foram importados para o Ocidente para pregar a Jihad contra as nações que os acolheu.
As mesquitas, começando com Mohamed (Maomé) em Medina, tem servido como um local de culto e um centro de atividades políticas. Ao longo dos anos, tenho ouvido os sermões de sexta-feira transmitidos em estações de rádio de ondas curtas das mesquitas em Riyadh, Arábia Saudita e no Cairo, Egito. Os elementos éticos das mensagens são mínimos e limitados a clichês intercalados com os textos do Alcorão. A maioria dos Khutbas(2) são dedicados a questões políticas com referências ao passado glorioso Islâmico, enquanto lamentam as condições atuais da Umma Islâmica que se interpõem no caminho de sua ascendência.
Não devemos esquecer que o líder dos ataques em 09/11/2001 aos Estados Unidos, Muhammad Atta, participou da Mesquita de Jerusalém, em Hamburgo, na Alemanha, onde ele teria ouvido a sua quota de sermões inflamados do seu Imam. Ele estava confiante de que seu crime foi cometido "Fi Sabeel-Allah" (no caminho de Alá.)
Para ampliar este ponto vou citar a introdução do livro do Professor Efraim Karsh, "Imperialismo Islâmico: Uma História", publicado em 2006 pela Yale University Press.
"Os mundos do Cristianismo e do Islamismo, no entanto, têm evoluído de forma diferente em um aspecto fundamental. A fé Cristã conquistou um império existente em um processo extremamente lento e doloroso e seu universalismo foi originalmente concebido em termos espirituais que fez uma clara distinção entre Deus e César. No momento em que foi abraçado pelos imperadores bizantinos como uma ferramenta para as suas pretensões imperiais, três séculos após sua fundação, o Cristianismo teve lugar em uma instituição de compensação com uma autoridade eclesiástica permanente sobre as vontades e ações de todos os crentes. O nascimento do Islã, pelo contrário, esteve intimamente ligado com a criação de um império mundial e seu universalismo era intrinsecamente imperialista. Ele não fez distinção entre os poderes temporal e religioso, que foram combinadas na pessoa de Maomé, que deriva sua autoridade diretamente de Deus e agiu como chefe de Estado e chefe da igreja. Isso permitiu que o profeta mantivesse suas ambições políticas com uma aura religiosa e canalizasse as energias do Islã em 'seus instrumentos de expansão agressiva, não [havendo] nenhum organismo interno de igual força para contrabalançar isso.'” (p. 5)
Enquanto escrevo estas linhas, a agitação no mundo Árabe continua e os resultados não são claros. O presidente Hosni Mubarak está enfrentando julgamento pelos crimes que cometeu durante seu governo de quarenta anos. O coronel Kadafi continua se equilibrando na presidência da Líbia. O Iemenita se recusou ceder à pressão da oposição que pretende desalojá-lo do seu governo autocrático; até a sua fortaleza foi atacada. Ele foi ferido e deixou o país em busca de atenção médica em Riyadh, Arábia Saudita, durante a primeira semana de junho de 2011. E na Síria, a terra que eu conheço tão bem e onde passei os primeiros anos da minha vida, a sangria continua. O presidente Bashar al-Assad recorre a medidas inacreditáveis para suprimir as manifestações pacíficas do povo, causando mais de 1.100 mortes nas ruas de numerosas cidades, vilas e aldeias em toda parte da Síria.
Curiosamente, a situação na Argélia está fluindo. Segundo outras fontes, as igrejas em questão continuam a atender. Continuam também a consultar com as autoridades para cumprir com as novas regras, mas as autoridades não cooperam com eles.
Quando a poeira finalmente baixar, permanece a dúvida se a condição dos Cristãos iria melhorar. Não estou lamentando a tentativa de pessoas do Oriente Médio para livrar-se de décadas de opressão. No entanto, se após terem se libertado de um regime ditatorial, eles retornarem para as crenças fundamentais do Islã, nenhuma mudança básica teria ocorrido e as minorias, tanto étnicas quanto religiosas, continuariam a sofrer discriminação e perseguição. Meu medo é legítimo ao ter lido recentemente num jornal de língua Árabe um artigo escrito por um intelectual da Síria (no exílio), que advertiu contra a possível aquisição desses países pela bem organizada Irmandade Muçulmana. Minha esperança e oração é que um evento tão catastrófico como esse seja evitado através do esforço concentrado e ações dos dirigentes reformistas ao perceberem que um grupo tão Salafista (3) mergulharia a região em outra era de trevas.
Notas de Rodapé
(1) O distrito Kabyle (ou Cabila) está na parte centro-norte da Argélia, a leste de Argel. Os cabilas são um dos grupos berberes que têm mantido a sua identidade, juntamente com o Chaoul, Tuareg, e Mozabite. Esta retenção da identidade é prova de que os invasores Árabes Muçulmanos tentaram Islamizá-los, mas sem sucesso.
(2) Khutba é o sermão proferido pelo Ímame da Mesquita durante o culto das orações de sexta-feira.
(3) Salafista é um termo Árabe que se refere àqueles pensadores Muçulmanos que dizem que o único jeito de o Islã atingir o restante do mundo é se retornarem ao Islã antigo, possivelmente restabelecendo o Khilafat (Califado).
* This article is a translation of "Algerian Authorities Close Seven “Illegal” Protestant Churches" - original
* Este artigo é uma tradução de "Algerian Authorities Close Seven “Illegal” Protestant Churches" - original
Voltar para a página principal
Palavras-chave
Mohamed, Maomé, Muhamed, Mohammed, Islã, Islam, Alcorão, Al-Corão, Quran, Korão, Al-Korão, hadith, hadice, sharia, tafsir, islamismo.